quarta-feira, 18 de junho de 2008

Das tripas, coração...

Das tripas, coração...

Antônio Pompéia

“Das tripas, coração”. Adélia Prado, inspirada, poetizou um dito popular. Encantou com palavras uma expressão que faz sentido a vida. Ser capaz de transformar as vísceras em expressões de amor. Isto é coisa de quem sabe o que é poesia, de quem fotografa jardins com olhos da alma quando tudo é sequidão ou, ainda, de quem consegue pintar a beleza diante do caos quando, nas entranhas do próprio ser, as cores já se tenham desbotado ou se perdido no fim de um dia soturno.

Das tripas, coração. A intensidade do amor confesso é externalizado, por muitas vezes, do íntimo de um coração apertado, esmagado pelas prensas psicológicas e ferido por causa da frieza dos ventos que sentem quem é deixado do lado de fora, ou na maioria das vezes, de lado.

Das tripas, coração. É a lágrima que rola com sentimento de não esperar nada em troca. E a lágrima rola, não por causa de uma esperança não alcançada, mas por causa da alegria de se fazer por esperar que alguém, além de si mesmo, viva mais.

Das tripas, coração. Do jardim para a cruz. Da cruz para um canto frio. Mas quem um dia irá dizer que não existe razão nas coisas feita pelo coração? Assim cantava o poeta... E assim, o grande Autor das coisas feitas pelo verdadeiro coração que se move de intima compaixão, fez brotar água em olhos que estavam sedentos de esperança. A noite pode durar uma vida de choro, e a morte pode durar três dias, mas o sal da dor será vertido em riso, porque serão limpos, de todos os olhos, todas as lágrimas.

Das tripas, coração...

Antônio Pompéia. Rio de Janeiro, 18 de Junho de 2008. 1:41 hrs. de uma noite fria, de ventos gelados, e de tripas e coração.

Nenhum comentário: